Centenas de pessoas cruzavam as barracas da feira de antigüidades todos os fins de semana ensolarados. Altas, baixas, arrumadas ou não, todas giravam os produtos nas mãos, ou compravam, ou falavam, ou aproveitavam o ar fresco, somente, ja que o vento soprava quente, trazendo uma sensação ainda boa. Girando um par de Cruzados Novos sobre os dedos estava o rapaz, aquele que eu e meus botões resolvemos chamar de Francisco - Chico - com sua jaqueta acinzentada. Chico tinha um bigode metodicamente cultivado, para compensar os cabelos em cachos rebeldes que emolduravam seu rosto fino, mas o que mais me chamou atenção foram seus olhos. Seu belo par de olhos serenos, brilhantes, de jabuticaba, que fitavam tudo com uma curiosidade quase que infantil. E aquilo me conquistou. Há muito eu havia aprendido a reparar na malícia dos olhos alheios, mas Chico não tinha isso, não o meu Chico. Nós até que trocamos um, dois, três olhares, mas foi o tempo d'ele comprar suas moedas - grandes como monóculos - e sumir na multidão, tão abruptamente como apareceu, e largar meu peito aberto em saudade. E aí? Aí veio a chuva, lavando tudo. Porque talvez importe mais o sensorial que o racional. Que se dane o contexto, eu amei por 93 segundos, e me foi o bastante. As ruas de Belo Horizonte nunca me chamaram tanta atenção, e desde então, o cheiro de chuva me faz cócegas na barriga.
De amores eternos vive o homem, de atrações momentâneas vivo eu.
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