terça-feira, 24 de novembro de 2009

Error

Pelas ruas eles caminhavam, cada qual com seu respectivo sorvete em mãos.
- Engraçado a gente ter se encontrado justo aqui. - Ela comentou.
- Acho que a gente precisava saber um do outro. - Ele respondeu, concentrado em seu sorvete.
Virando na primeira esquina da direita, passaram por um homem que tocava seu violino como quem toca um violão, uma caneca velha esperava aos pés dele e seus olhos estavam fechados.
Eles sentaram no banco mais próximo do homem do violino e permaneceram em silêncio. Ela olhou tão fundo nos olhos dele que ele teve que desviar o olhar.
- E então, o que você fez no último ano? Há tanto a gente não se fala.. - Ela puxou.
- O de sempre, nada de especial.
- Ah, sim.
Pausa.
- Menina, eu tenho que ir. Uma vida pra seguir.- Ele se levantou e jogou os braços ao ar para findar largando-os atrás da cabeça. Um olhar de melancolia.
Ela se levantou também, para vê-lo mais de perto e guardar tudo o que conseguisse daquele momento. Cheiro, iluminação, a melodia do homem do violino, qualquer coisa. Todos sabiam que eles não se veriam mais. O acaso não existe.
- Bom encontrar você aqui. - Ela disse. E foi tudo o que ela pode dizer antes de ele desaparecer atrás do labirinto de paredes no emaranhado da cidade.
O homem do violino recebeu algum dinheiro com a partida da garota. Afortunados foram os que captaram a história planando com o vento naquele dia, mas depois daquilo, nunca mais ninguém ouviu nada parecido.

quinta-feira, 19 de novembro de 2009

Almost like wonderland

Antes de tudo, bote pra tocar.
De pés descalços na grama molhada do fim daquela tarde, na beira do lago aquarelável, esperando alguma coisa acontecer. Munida em sua bolsa de tudo o que é necessário nessa vida; lápis, um bloco de folhas em branco, um maço de cigarros e um aparato musical com 30gigas de músicas que valem a pena ser ouvidas. Poderia levar o tempo que fosse, o tempo que fosse para ela se auto-afirmar, para ela ter uma epifania, para ter uma idéia brilhante, ou simplesmente para que ela decidisse que já estava tarde o bastante e deveria ir para casa.
Enrolou o cachecol em volta do pescoço com força, numa tentativa fracassada de se esquentar ou matar, e quando decidiu que já estava escuro e frio demais na beira daquele lugar aquarelado, levantou-se, tomou em mãos suas coisas e se virou para as árvores que lhe indicariam a saída. As mesmas, agora com aparências demasiado retorcidas, apontavam para uma direção ao norte. A garota seguiu as árvores, passando por um grupo de outras árvores igualmente curvadas, seguindo a pequena trilha que dava numa clareira. Clareira esta na qual centenas de fadas dançavam, com suas luzes coloridas piscando sem parar, ou seriam vaga-lumes? Se posso escolher, fadas então. A garota se aproximou devagar, as fadas abriram espaço, o aparato musical foi ligado em amplificadores estrategicamente imaginados na cena pelo narrador-observador e tudo virou festa. {você deve estar, pelo menos no 2:10min de Hello Seattle para continuar a leitura} Dançando a música da noite, e do aparato musical, a garota nunca se sentiu tão bem. Em meio a todas as luzes das fadas, entre as árvores torcidas e retorcidas, com o sangue pulsando em cada parte do seu corpo, sorria e se mexia como se deve fazer, até suas preocupações, pequenos monstrinhos cabeludos, dançavam aos seus pés. Tudo era luz, som, atmosfera, sentido.
A música foi terminando e todos se deitando na relva e rindo de dentro pra fora.

it's not the same without you, 'cause it takes two to whisper quietly

sábado, 14 de novembro de 2009

Frustrações de um dia bom

O que eu queria? Algo pra capturar momentos, sensações que duram nanosegundos, que meus olhos tirassem fotos, um reprodutor de humor ou algo assim. Só pra eu poder dividir coisas especiais com uma maior riqueza de detalhes. Mas como estamos longe disso, minhas palavras soltas para registros pessoais dão pro gasto.
No meio de todas as árvores, cachorros, sobre as telhas, na janela, no quintal, no lago, com os jogos, por entre as pessoas, no trator, nos tapetes, no quarto, na sala, com os peixes, perto dos arranjos, no escuro, com os bichos, com as luzes, tudo correu tão bem. E nunca foi assim.

quarta-feira, 4 de novembro de 2009

15:15

Stef, diz:
já que eu tô aqui presa nessa droga de computador, perdendo meu tempo, diz logo, o que você quer?
Mateus! diz:
você sinceramente não vai querer saber por aqui
Stef, diz:
então por que porra você me pediu pra entrar no msn se a gente não pode conversar agora?
Mateus! diz:
eu gosto de conversar baboseira desinteressante com você
Stef, diz:
ah
mas eu não posso agora, Mateus.
Mateus! diz:
e se hoje fosse o último dia?
Stef, diz:
que ultimo dia? de que?
Mateus! diz:
o seu, na terra. Ultimo dia
tipo
se o mundo fosse acabar amanhã!
Stef, diz:
você quer mesmo brincar disso?
Mateus! diz:
sério! se hoje fosse o ultimo dia você ia me largar pra ver tv ou algo assim? mesmo?
Stef, diz:
não
Mateus! diz:
e o que você faria?
Stef, diz:
ah,mateus..
Mateus! diz:
...
Stef, diz:
me despediria de você,acho
e sairia pra enxer a cara
Mateus! diz:
bem a sua cara
Stef, diz:
auhsuadhu
Mateus! diz:
não,sério.
Stef, diz:
o que VOCÊ faria?
Mateus! diz:
passaria com alguém que eu gosto. A gente ia sair, comprar uns sorvetes, roubar uma bicicleta, andar por aí, eu provavelmente jogaria meu sorvete nela só pra ela ficar irritadinha, e ai a gente ia rir. E ficar assim. Até tarde. Até amanhã. Até o fim do mundo
Stef, diz:
você ia escolher uma pessoa só pra se despedir?
Mateus! diz:
seria alguém especial. Além disso, eu deixaria meus pais curtirem um com o outro. E não tenho irmão nem nada. Então, sim, escolheria uma pessoa só
Stef, diz:
é,não é assim que eu imaginava teu ultimo dia na terra
imaginava mais algo do tipo.. você com aqueles babacas dos teus amigos de sempre, coçando o saco, fodendo umas pirralhas ou algo assim
Mateus! diz:
eu gastei todos os meus outros dias fazendo isso, sair da rotina faz bem. Além disso, não é bem isso que eu quero pra minha vida, se você quer saber
Stef, diz:
surpreendente. Não imaginava
Mateus! diz:
sou cheio de surpresas
*Mateus! chamou sua atenção*
*Mateus! chamou sua atenção*
Stef, diz:
que foi,porra?!
Mateus! diz:
pára de me fazer gastar as merdas dos créditos do meu celular nesse msn e olha pela porra da janela. Ou vai demorar pra perceber que eu tou tentando te levar pra tomar sorvete? De bicicleta! E você não é lá das garotas mais leves.. Acha que eu faço isso por qualquer um?
Stef, diz:
Porra,você ta mesmo ai! Ta,vou me arrumar e desço
Mateus! diz:
mas vai logo,vai que amanhã o mundo acaba!
*Mateus! parece estar offline. As mensagens serão entregues quando esse contato entrar*

segunda-feira, 2 de novembro de 2009

& everyone is singin'

Música. Nada mais nada menos que os sentimentos de alguém, decodificados de um modo que as outras pessoas possam entender. E assim elas compartilham. Com ou sem palavras, de acordo com suas interpretações pessoais, a música é sentida, cumprindo seu objetivo. Melodia. Sustenidos, bemóis, dores, paixões, em pentagramas, tablaturas, no céu ou pelos meus fones de ouvido. Particularmente gosto das que me parecem tratar de amor, ou de algo proveniente disso, melhor que as músicas de amor, só as de dor-de-cotovelo. Bom é caminhar com acústicas metidas a agitadas, bom é chorar com música gritada, bom é amar com a poesia das letras, bom é curtir em parceria um solo de guitarra, bom é acordar com a melodia que vem através da janela, bom é sentir todo o tempo e a música maximiza essa percepção, esse sentimentalismo, essa minha vontade de viver. Bom é fechar os olhos e se deixar levar.

E a música não necessariamente precisa sair das caixas de som de alguém, música são as cordas vocais, música é momento, música é melodia que vem na cabeça de repente, música é arrepio, música é batucada, música é trilha sonora e é a gente que faz.

Meu humor é diretamente proporcional ao clima

Talvez eu realmente tenha que esperar algo ruim acontecer na minha vida pra me inspirar pra um novo post. E nessa brincadeira, não estou com a menor pressa.
Falling, falling, falling.