quarta-feira, 8 de fevereiro de 2012

Um par de sorrisos


Acordar, banho, curso, buscar irmão, levar irmã, tira tênis, almoço, bota tênis, estágio, cervejinha, banho, cama.
E é deitado na cama depois de um típico longo dia, quando tudo o que mais quer é dormir, que ele recebe uma mensagem. 
"Vc não vai acreditar no que aconteceu hj! (...) Aí lembrei de você"
Lembrou dele. Ela lembrou dele. Ela. Dele. 
E é um vira de cá, rola pra lá. Braço debaixo do travesseiro. Não. Desconfortável. Travesseiro entre as pernas. Também não. Mas o que ela quis dizer com isso? Bruços. Ok, mas o que responder? Tira cobertor. Mas será que vai parecer muito forçado? Bota cobertor. Desesperado? Travesseiro no chão. Uma hora, meia, mais uma e meia.
Pendendo da mão dormente, o celular lentamente escorrega e aterrissa sobre o tapete, com um baque abafado. A tela luminosa se apaga com um suspiro e uma mensagem não enviada. Naquela noite o coração sonha sonhos mirabolantes de cavaleiros, magia e contos de amor. Sonhos estes que jamais seriam revelados à ninguém. Era contra suas crenças, isso de sentimentos.
Acordar, banho, curso, buscar irmão, levar irmã, tira tênis, almoço, bota tênis, estágio, cervejinha, banho, cama.
Uma longa olhada no visor do celular antes de pousa-lo sobre a mesa de cabeceira. Perto o bastante para apanha-lo se tocasse, mas longe o suficiente para não faze-lo de imediato, fingindo que não esperava receber ligações.
Pálpebras pesando. O quarto se dissolvia num redemoinho de borrões.
O celular vibra alto na madeira.
Ele pisca rápido e lança a mão sobre a mesinha de cabeceira, num impulso.
"Mande VENCEDOR para o número 444 e concorra (...)!"
-Porra!
Uma estranha coragem cresceu junto com a raiva de torpedos publicitários e ele decidiu. Teclou rapidamente e enviou antes que se arrependesse.
N'outra casa, n'outra rua, n'outro bairro, naquele instante, um sorriso feminino se abria e iluminava um quarto inteiro enquanto um nome específico brilhava na tela de seu celular.
"Não consigo dormir."
"Que bom. Nem eu."