sexta-feira, 9 de dezembro de 2011

Por debaixo de um meio-sorriso

Bocejo. Desembaço os olhos. É um corredor comprido, comprido, recheado com um vai-e-vem caótico de mochilas e gritos e risos e cotoveladas. No ar, reinam bolas de papel -graciosas, paraboláres. No chão, papéis de bala, o guinchar dos tênis, cadarços desamarrados e tropeções.
Meus livros no ar, meu ombro de encontro aos armários gélidos. Lateja-Lateja. Por que me empurram? Ouço risos trogloditas vindos de cima. Meu rosto arde, os sons se esvaem, meu coração pulsa nas orelhas, querendo explodir.
Sigo na caminhada, os sons vêm voltando devagar. Instáveis. Cíclicos. Risos tão altos que doem na alma. Palavras duras, familiares, afiadas como navalha -ah, velha navalha - são proferidas à mim. Me acertam em cheio no rosto, no peito, na boca do estômago, no fundo dos olhos e eu não sei mais o que fazer.
Sem ar, prossigo, com um grito entalado na garganta. Um novo dia. Glorioso novo dia.
E em meio ao escuro, faz-se a luz. O caminho de volta pra casa é sempre tranquilo; pichações, calor, lixo, calor, buzinas, calor e solidão. Enfim só. Melhor se estar só consigo mesmo, do que só entre outras pessoas.
"Como foi o dia?" Normal. "Está com fome?" Como depois. "Vai para o seu quarto?" É.
Passado o interrogatório diário, na cama, a reflexão de sempre me assombra. Eu devo realmente ser tudo o que me dizem, não? Sou eu contra o mundo; se todos estão falando, devem estar com a razão. Devem estar. Haveriam etiquetas em mim? Nas minhas coisas, nas minhas roupas, no meu modo de agir? Rótulos. Deveriam haver. Invisíveis somente para mim, enquanto o resto do mundo lia em voz alta, me condenando por ser quem sou. É errado eu não conseguir compreender o que há de tão abominável em..mim?

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sábado, 26 de novembro de 2011

Please, come in


Um tilintar familiar de chaves na porta.
Seria você?! Corro para ver.
Não. Nada. Silêncio.
Acho que meu coração está ouvindo coisas.
Me diz que vai voltar logo.
Me diz logo que vai voltar.
Me diz que vai voltar.
Me diz qualquer coisa.
Me diz.
Me deixa ouvir a tua voz, que já faz tanto tempo.
Antes que esse silêncio me mate outra vez.

segunda-feira, 21 de novembro de 2011

Eu, turbilhão


Vazio, vazio, vazio, vazio aqui. Silêncio aqui, aqui, aqui, aqui. Eco. Insegurança, incerteza, incapacidade; exaustão, fadiga, saturação. Inércia.
Palavras soltas, sem censura. Ninguém está olhando. Não teria ninguém pra ver, de qualquer forma. Ninguém aqui. Não há ar nos meus pulmões... Eu adoraria gritar. Gritar faz bem pra alma. Doer não é assim tão ruim, faz você se sentir vivo. E com o tempo você acostuma. Aceita. Se entrega. O que é horrível. Mas quem disse que no fundo do poço alguém tem forças pra lutar? Quem sou eu? Certamente não esta pessoa.. Quem é você, na minha cabeça? Por favor, me deixa em paz.. Por favor. Não quero mais brincar disso de doer. Essa roleta russa vai acabar acabando comigo. E por pior que tudo esteja, eu ainda não quero sair do jogo. Como lidar comigo mesma?
Me pergunto como ninguém viu ainda esse turbilhão no lugar da minha cabeça. Daqui parece tão claro que tudo está errado. Errado. Errado.
Calma.
Quem sou eu, mesmo? O que estou fazendo aqui? Não. Eu não gosto daqui. Não gosto. E não gosto do que não gosto. Não quero mais pensar no que eles querem que eu pense. E quem são eles? E quem eles pensam que são? Por que eu sou apenas eu, enquanto eles são eles? Eu sou eu, cheia de vontades, que não tem nada a ver com as vontades deles, mas aparentemente isso de nada importa. Engraçado, porque eu sou eu, exatamente como eles são eles. Quem decidiu que eu devo valer menos? Não vi quem foi. Gostaria de conversar com essa pessoa.
Uau.
O mundo depois da janela parece tão bonito, ensolarado. Quero correr lá fora. Vontade engraçada, correr. Talvez eu exista para sacia-la. Quero realmente correr. Sei que não posso agora, porque ainda estou aqui dentro, mas eu vou sair. E quando sair, vou correr. Depois disso ainda não sei. Mas tudo bem. Talvez a correria me leve a algum lugar inusitado. Ou talvez eu corra em círculos. Mas aí depois disso, é só eu arranjar algo mais que me mova. Acho que era isso que faltava em mim. Algo pra me mover. Como esse sol lá fora, quente e cheio de promessas. Tão bonito. Colorindo tudo. Esse "lá fora" é o lugar mais não-vazio que eu já percebi.. E eu gosto. Nada existe até ser percebido. Quero perceber coisas novas. Talvez eu exista pra isso.
É, talvez.

domingo, 16 de outubro de 2011


Me leva pra outro lugar qualquer.

sábado, 6 de agosto de 2011

Philophobia


À meia-luz dourada, todos os corpos são levados pela valsa em rodopios perfeitos e reverências precisas, se embaralhando. Por detrás das máscaras, homens e mulheres aproveitam os giros para dar espiadas e olhadelas uns nos outros, fervendo em segundas e até terceiras intenções para com seus próprios parceiros e os parceiros dos colegas. O salão está abafado, todos suam e arfam, a música fica mais forte e o cavalheiro em vermelho toma a mão da dama em preto. Ela, graciosamente, se esquiva, incitando a curiosidade dele. A perseguição ritmada começa, com piruetas e saltos ela foge, apesar de não tirar os olhos dele. Ele, cheio de floreios, a encurrala e a faz exibir um sorriso. Ele se ilumina, ela cora por trás da máscara.
Para todos no salão são evidentes os sentimentos entre o par, e é por isso mesmo que ela foge. Ela. A Rainha de Espadas nunca se entregaria à tais fraquezas, ela não cederia, e isso fazia o Rei de Copas se apaixonar ainda mais, correndo atrás dela com afinco.
Ela era forte demais pra se deixar bagunçar por um bigode bem feito. Ou pelo menos ela deveria ser. Tinha de ser.
Ele era charmoso demais para não conquistar qualquer donzela com um olhar. Com ela não seria diferente. Não poderia ser.

segunda-feira, 11 de julho de 2011

Calmaria rotineira

A garota folheia uma revista qualquer, sorridente.
Gritaria no andar de baixo.
A garota fecha a porta do quarto, decidida.
Monólogo no andar de baixo.
A garota rói as unhas, animada.
Silêncio no andar de baixo.
Suspiro.
Pratos são quebrados no andar de baixo.
A garota torce involuntariamente a revista, com alegria nos olhos.
Passos fortes no andar de baixo.
A garota amassa as páginas contra os ouvidos, satisfeita.
Urros no andar de baixo.
A garota morde o lábio, divertida.
Lágrimas no andar de baixo.
Os lábios sangram.


segunda-feira, 20 de junho de 2011

Ponto de fuga


Com esse meu espírito errante de cavaleiro, encaro o horizonte. Não sei qual o mistério por trás do horizonte, linear, estável, tranquilo, mas curiosamente sempre diferente. Deve ser a luz, tudo muda com a luz. Ou talvez seja sua profundidade infinita. Chega a ser assustador, o horizonte, de tempos em tempos. Para aqueles de mente inquieta, pelo menos; como eu, cavaleiro errante.
Tão incerto, vermelho, laranja, rosa, azul, cinza, o horizonte.
Surpreendente, apaixonante, aterrorizante.
O que me esperaria depois do horizonte? E como chegar lá? A cavalo? E meu cavalo cairia da beirada do mundo? Universo planificado.
Só sei que o persigo, desgarrada, na esperança de me encontrar no fim da jornada, mas ouvi dizer que horizonte é igual amanhã; nunca chega. Se nunca chega por que teimo em prosseguir? Só saberei quando chegar. Se chegar. Chegar. Horizonte acaba? Só se você parar de olhar. Mas ouvi que a gente tem que encarar os medos de frente, então não posso parar de olhar.
Declaro, a partir de hoje -então- ser uma encaradora de encantadores horizontes que teimam em brincar comigo. Traiçoeiros. Perfeitos. Distantes. Abstratos. Indescritíveis. Metafísicos.

terça-feira, 14 de junho de 2011

Meu verde


Aumenta aí, é meu.

terça-feira, 7 de junho de 2011

Feelin' blue

Por que essas dores alheias me doem também, tanto? Não sei mais lidar com isso. Minha vez de cortar fora meu coração a canetadas. Caneta no papel, mais fundo, mais fundo, até que finalmente rasga. E me escorre azul-bic pelo caderno, intenso, denso, carregado de angústia com um sádico brilho plasmático. E alívio.
Já não me dói mais.
Estourei a carga; o azul escorre pelo piso, com respingos na parede, zombeteiros. A tinta espessa manchando tudo o que alcança, impregnando a ponta dos meus dedos. Até as marcas no papel dilacerado me encaram, eu não fiz por mal, eu só queria que a dor fosse embora. Por que riem de mim, por que me julgam? Desvio o olhar. Encaro um canto qualquer, abraçando o caderno ensopado, com cuidado. Azul na palma das mãos. Azul escorrendo dos olhos. Azul no meu coração.

domingo, 5 de junho de 2011


Se fome de felicidade matasse, eu já estava enterrada por inanição.

quinta-feira, 5 de maio de 2011

Amanhã, talvez, ou não

Sei que seremos 'eu e você', ainda que demore a chegar, e vai demorar. Nós dois ainda temos que mudar tanto. Crescer tanto. Em separado, para depois crescermos juntos. Sabe por quê? Porque eu não quero te perder quando a gente se permitir amar de novo.
Estou aqui lutando por nós, correndo atrás dos meus sonhos e me fortalecendo. Caso a gente se perca, eu vou saber sobreviver. Mas eu te quero tanto. Tenho medo desse amor ser utópico, e talvez seja mesmo, mas pelo menos eu tenho algo no que me agarrar caso meu cotidiano vá por água a baixo. Talvez um dia eu acorde e naturalmente perceba que a gente não passou de um 'momento' adolescente, com um quê de infantil, ainda. E tudo vai ficar bem. Porque eu amei do meu próprio jeito. Porque você derrubou a muralha que cercava meu coração temeroso e estendeu a mão pra ele. Fatos nos tornaram incompatíveis, mas a gente estranhamente continua se atraindo. Opostos pólos.
Bom será o dia em que alguém puder explicar minha vontade louca de deitar a cabeça no seu peito e simplesmente ficar lá, pra sempre. Respirando, ouvindo e existindo. Enquanto isso, recolho-me à minha loucura. Apesar de tudo -tudo- enquanto meu rosto repousa no seu, eu não preciso de mais nada. E não existe tempo.

Repetitivo.
Leve demais.
Tarde demais?



Derradeira borboleta

Tenho medo de morrer poeta, ornamentando estrofes sozinha entre minhas paredes.
Eloqüente em falar ao vento, enquanto leiga da porta à fora.
Que de tanto fantasiar com vida, desaponta-se com cotidiano.

Se eu 'fizesse acontecer', não perdia madrugadas sonhando em celestes pautas de caderno.

quinta-feira, 31 de março de 2011

Em mergulhos

Centenas de pessoas cruzavam as barracas da feira de antigüidades todos os fins de semana ensolarados. Altas, baixas, arrumadas ou não, todas giravam os produtos nas mãos, ou compravam, ou falavam, ou aproveitavam o ar fresco, somente, ja que o vento soprava quente, trazendo uma sensação ainda boa. Girando um par de Cruzados Novos sobre os dedos estava o rapaz, aquele que eu e meus botões resolvemos chamar de Francisco - Chico - com sua jaqueta acinzentada. Chico tinha um bigode metodicamente cultivado, para compensar os cabelos em cachos rebeldes que emolduravam seu rosto fino, mas o que mais me chamou atenção foram seus olhos. Seu belo par de olhos serenos, brilhantes, de jabuticaba, que fitavam tudo com uma curiosidade quase que infantil. E aquilo me conquistou. Há muito eu havia aprendido a reparar na malícia dos olhos alheios, mas Chico não tinha isso, não o meu Chico. Nós até que trocamos um, dois, três olhares, mas foi o tempo d'ele comprar suas moedas - grandes como monóculos - e sumir na multidão, tão abruptamente como apareceu, e largar meu peito aberto em saudade. E aí? Aí veio a chuva, lavando tudo. Porque talvez importe mais o sensorial que o racional. Que se dane o contexto, eu amei por 93 segundos, e me foi o bastante. As ruas de Belo Horizonte nunca me chamaram tanta atenção, e desde então, o cheiro de chuva me faz cócegas na barriga.

De amores eternos vive o homem, de atrações momentâneas vivo eu.

quinta-feira, 24 de março de 2011

Be the change

E Março passou arrastado, despercebido. Você esperava algo extraordinário acontecer, dar um tapa na sua cara e mudar sua vidinha completamente. Te livrar da rotina. Tentou se agarrar a amores impossíveis, planos infalíveis e vontades desprezíveis, até finalmente se dar conta de que nada vai acontecer espontaneamente e te erguer do chão. Batalhar pelos seus sonhos parece difícil, eu sei, impossível as vezes, tornando uma espera cármica a opção mais fácil, mas bem la no fundo, tanto eu quanto você sabemos que esperar não dá em nada. Mantenha suas válvulas de escape por perto, mas se jogue no esforço, na tentativa, para enfim atingir algo, sua meta. Meta alcançada com seu trabalho, seu, de mais ninguem, teu mérito. Nada pior que auto-ajuda, mas fica valendo o lembrete, o contexto, eu, tal. Levante da cadeira e pare de postar, Anaïs. Pare de fingir.
Quando ser é mais difícil do que eu imaginava.

quarta-feira, 23 de fevereiro de 2011

Relatos de folha de caderno

Todos os dias ela chegava em casa, chutando os sapatos sempre coloridos junto à porta, preparava sua xícara de café amargo e se largava no sofá com seu bloco de notas. Ela podia passar horas escrevendo sobre seu amor sem parar para respirar, mas ela gostava de se movimentar. Ora rolava no sofá, ora se sentava à mesa, ora caminhava. E eram páginas e mais páginas diárias de um amor inigualável e arrebatador. Depois do banho cantado, ela se sentava ao computador aguardando a chegada de seu querido, aproveitando para digitar suas obras do dia. Metodicamente coloria e selecionava as palavras que teriam destaque, tais como Paixão, Razão e Vida, dependendo do dia, e empenhava-se em formatar seu texto. Hora vai hora vem, o tec-tec do teclado ecoava pelas paredes do apartamento. Depois da imagem adequada, tudo era postado em seu blog privado e ela se retirava para um lanche. Os pés pendiam do sofá, ela adormecida, o relógio perdia a hora, porém ouvia-se um tilintar de chaves na fechadura. Ele finalmente adentrara, acendendo a luz, largando a mochila na cadeira e coçando a nuca. Uma ducha rápida e cama, ele roncava alto no quarto quando ela acordou. Ela andou cuidadosa até a cama, puxou os lençóis mais para junto de seu amado, afagando-o e admirando-o. Postou-se cuidadosamente ao seu lado e roçou os pés frios nos dele, imóveis, extasiando-se com o calor imediato que percorreu seu interior, então adormeceu sorrindo de alma e corpo. Mais um dia. E como ela era feliz, amando-o incondicionalmente.

terça-feira, 22 de fevereiro de 2011

Como não sentir falta do tempo dos tempos aonde palavras não eram necessárias? Quando o contato não era obrigação, mas uma necessidade? Mas como me foi dito, todo mundo vai e vem. Feito miragem num momento estão lá, no seguinte é só a lembrança. Ou quem sabe a ilusão.