quinta-feira, 31 de março de 2011

Em mergulhos

Centenas de pessoas cruzavam as barracas da feira de antigüidades todos os fins de semana ensolarados. Altas, baixas, arrumadas ou não, todas giravam os produtos nas mãos, ou compravam, ou falavam, ou aproveitavam o ar fresco, somente, ja que o vento soprava quente, trazendo uma sensação ainda boa. Girando um par de Cruzados Novos sobre os dedos estava o rapaz, aquele que eu e meus botões resolvemos chamar de Francisco - Chico - com sua jaqueta acinzentada. Chico tinha um bigode metodicamente cultivado, para compensar os cabelos em cachos rebeldes que emolduravam seu rosto fino, mas o que mais me chamou atenção foram seus olhos. Seu belo par de olhos serenos, brilhantes, de jabuticaba, que fitavam tudo com uma curiosidade quase que infantil. E aquilo me conquistou. Há muito eu havia aprendido a reparar na malícia dos olhos alheios, mas Chico não tinha isso, não o meu Chico. Nós até que trocamos um, dois, três olhares, mas foi o tempo d'ele comprar suas moedas - grandes como monóculos - e sumir na multidão, tão abruptamente como apareceu, e largar meu peito aberto em saudade. E aí? Aí veio a chuva, lavando tudo. Porque talvez importe mais o sensorial que o racional. Que se dane o contexto, eu amei por 93 segundos, e me foi o bastante. As ruas de Belo Horizonte nunca me chamaram tanta atenção, e desde então, o cheiro de chuva me faz cócegas na barriga.

De amores eternos vive o homem, de atrações momentâneas vivo eu.

quinta-feira, 24 de março de 2011

Be the change

E Março passou arrastado, despercebido. Você esperava algo extraordinário acontecer, dar um tapa na sua cara e mudar sua vidinha completamente. Te livrar da rotina. Tentou se agarrar a amores impossíveis, planos infalíveis e vontades desprezíveis, até finalmente se dar conta de que nada vai acontecer espontaneamente e te erguer do chão. Batalhar pelos seus sonhos parece difícil, eu sei, impossível as vezes, tornando uma espera cármica a opção mais fácil, mas bem la no fundo, tanto eu quanto você sabemos que esperar não dá em nada. Mantenha suas válvulas de escape por perto, mas se jogue no esforço, na tentativa, para enfim atingir algo, sua meta. Meta alcançada com seu trabalho, seu, de mais ninguem, teu mérito. Nada pior que auto-ajuda, mas fica valendo o lembrete, o contexto, eu, tal. Levante da cadeira e pare de postar, Anaïs. Pare de fingir.
Quando ser é mais difícil do que eu imaginava.