terça-feira, 22 de junho de 2010

Homesick

Revirando as caixas empoeiradas e iluminadas pelos feixes dourados de luz que atravessavam a esburacada parede de madeira do sótão, me vi diante daquela que continha o passado que eu decidi deixar para trás. O caminhão de mudança me esperava na calçada, mas eu não tinha pressa. Atravessei o mundo de cacarecos e fotografias que transbordavam da caixa, chegando ao fundo. Tateei e envolvi com os dedos algo que havia passado despercebido na primeira vez que vasculhei a caixa parda, uma fita de áudio. Apertei-a contra o peito pensando se valeria a pena revelar os segredos da mesma, ou se seria melhor deixar o passado de lado definitivamente. Não demorou muito para eu descer as escadas correndo com a fita n'uma mão e o toca-fitas na outra, empilhar as ultimas caixas no caminhão e seguir no meu carro.
Minha nova casa não era longe dali, mas era nova, e assim, um refúgio. Quando me vi sozinha, cercada pelas pardas caixas de papelão triste, pelas quatro paredes brancas do cômodo, encarando o estrado da cama, resolvi que era hora de enfrentar a tal da fita. Sentei no chão com o aparelho, soprei a fita para não perder o hábito e a inseri. O que saiu das caixas de som, além de uns estalos, um risinho abafado e uns murmúrios foi uma melodia de violão conhecida. Com um quê nostálgico. Demorei um tanto para reconhecer a melodia que me embalou todas as noites em que eu dormi na casa de meu avô. Tão frágil, tão meu, tão inalcançável. Esse negócio de 'lugar melhor' não existe, nada era melhor do que você comigo. E mais uma vez, as lembranças me invadiram por uma pontada no ventre, subindo quentes até a garganta. Minha testa pressionada contra o chão frio e eu me dando conta de que talvez eu nunca aceite 'o ciclo natural das coisas'.

segunda-feira, 21 de junho de 2010

Eu, o problema meu

Minha testa arde nessa febre psicológica, meus olhos inchados escorrem sem saber, mas é esse mix de coisas que me afligem que me dói demais. Tanto, tanto que me falta, que me vem, que mexe comigo, me modela, me arranca o sentido que eu nem sei
mais.
O que.
Pensar.

Tem o que eu não quero, o que eu não aceito e o que eu sinto. Tem os hormônios, a pressão e os paradigmas. Tem as cores, as flores e os cheiros. E é um tudo de uma vez que me borbulha as entranhas e cresce e sobe e arde. Arde sem doer de vez em quando, mas é esse um dos problemas. Afinal. Afinal o que?
Milhões
de coisas.

O carrossel que são as relações humanas, as expectativas alheias, o meu oceano sentimental e o tudo mais se chocam de um jeito que eu fico achando que nem 43 seria a resposta. Me tira uma conclusão. Me tira. Tira.