sexta-feira, 19 de fevereiro de 2010

Raiva. Correndo no sangue com a adrenalina, raiva tanta que faz as pernas tremerem, raiva essa que te faz querer agir. Meus pés querem destroçar o painel do carro, minha garganta quer sangrar gritando, mas eu não obedeço os impulsos, eu respiro, mordo minhas próprias bochechas com uma fúria discreta, aperto os nós dos dedos e espero. Espero. O carro pára, os faróis se apagam, espero pacientemente junto à porta pela chave que não está sob o meu domínio - cogito dormir no quintal, perto do carro, mas a ideia com a mesma rapidez que vem, se vai - a porta se abre e eu entro com urgência, subo e fecho a outra porta atrás de mim, a do quarto, com delicadeza. Desisto, a abro e bato com força, num movimento rápido. Em minha fortaleza, os gritos e lágrimas e palavrões e soluços vem todos de uma vez, de dentro pra fora, queimando de um jeito novo, diferente do jeito com o qual eu me acostumei. Desatravesso a porta e grito no corredor, volto, vou, volto. E me tranco de vez para deixar o tempo passar, franzindo o cenho, devagar e sempre. Raiva.
Ela continua agindo, mesmo depois que os impulsos cessam.

quarta-feira, 10 de fevereiro de 2010

Existência

Pessoas se juntam num lugar que chamam de deles; com outras pessoas que chamam de família; decidem compartilhar as coisas (salvo exceções, claro); optam por uma divisão hierárquica dando maior importância à idade e não realmente ao que tem a dizer; fragmentam seus dias em séries de momentos não-prazerosos, segundo eles mesmos, em nome uns dos outros; quando chega a noite e todos se reúnem no lugar comum, se separam por estarem cansados demais para conviver, pela série de coisas desgastantes que fizeram durante o dia (sempre por amor, lógico). Não ter voz, contato ou tempo num sistema desses, tão falho, é normal. O que não se faz pelo amor?
Que bom que é normal, se não fosse acho que eu deveria me preocupar. Ufa.