Raiva. Correndo no sangue com a adrenalina, raiva tanta que faz as pernas tremerem, raiva essa que te faz querer agir. Meus pés querem destroçar o painel do carro, minha garganta quer sangrar gritando, mas eu não obedeço os impulsos, eu respiro, mordo minhas próprias bochechas com uma fúria discreta, aperto os nós dos dedos e espero. Espero. O carro pára, os faróis se apagam, espero pacientemente junto à porta pela chave que não está sob o meu domínio - cogito dormir no quintal, perto do carro, mas a ideia com a mesma rapidez que vem, se vai - a porta se abre e eu entro com urgência, subo e fecho a outra porta atrás de mim, a do quarto, com delicadeza. Desisto, a abro e bato com força, num movimento rápido. Em minha fortaleza, os gritos e lágrimas e palavrões e soluços vem todos de uma vez, de dentro pra fora, queimando de um jeito novo, diferente do jeito com o qual eu me acostumei. Desatravesso a porta e grito no corredor, volto, vou, volto. E me tranco de vez para deixar o tempo passar, franzindo o cenho, devagar e sempre. Raiva.
Ela continua agindo, mesmo depois que os impulsos cessam.