Todos os dias ela chegava em casa, chutando os sapatos sempre coloridos junto à porta, preparava sua xícara de café amargo e se largava no sofá com seu bloco de notas. Ela podia passar horas escrevendo sobre seu amor sem parar para respirar, mas ela gostava de se movimentar. Ora rolava no sofá, ora se sentava à mesa, ora caminhava. E eram páginas e mais páginas diárias de um amor inigualável e arrebatador. Depois do banho cantado, ela se sentava ao computador aguardando a chegada de seu querido, aproveitando para digitar suas obras do dia. Metodicamente coloria e selecionava as palavras que teriam destaque, tais como Paixão, Razão e Vida, dependendo do dia, e empenhava-se em formatar seu texto. Hora vai hora vem, o tec-tec do teclado ecoava pelas paredes do apartamento. Depois da imagem adequada, tudo era postado em seu blog privado e ela se retirava para um lanche. Os pés pendiam do sofá, ela adormecida, o relógio perdia a hora, porém ouvia-se um tilintar de chaves na fechadura. Ele finalmente adentrara, acendendo a luz, largando a mochila na cadeira e coçando a nuca. Uma ducha rápida e cama, ele roncava alto no quarto quando ela acordou. Ela andou cuidadosa até a cama, puxou os lençóis mais para junto de seu amado, afagando-o e admirando-o. Postou-se cuidadosamente ao seu lado e roçou os pés frios nos dele, imóveis, extasiando-se com o calor imediato que percorreu seu interior, então adormeceu sorrindo de alma e corpo. Mais um dia. E como ela era feliz, amando-o incondicionalmente.