sábado, 6 de agosto de 2011

Philophobia


À meia-luz dourada, todos os corpos são levados pela valsa em rodopios perfeitos e reverências precisas, se embaralhando. Por detrás das máscaras, homens e mulheres aproveitam os giros para dar espiadas e olhadelas uns nos outros, fervendo em segundas e até terceiras intenções para com seus próprios parceiros e os parceiros dos colegas. O salão está abafado, todos suam e arfam, a música fica mais forte e o cavalheiro em vermelho toma a mão da dama em preto. Ela, graciosamente, se esquiva, incitando a curiosidade dele. A perseguição ritmada começa, com piruetas e saltos ela foge, apesar de não tirar os olhos dele. Ele, cheio de floreios, a encurrala e a faz exibir um sorriso. Ele se ilumina, ela cora por trás da máscara.
Para todos no salão são evidentes os sentimentos entre o par, e é por isso mesmo que ela foge. Ela. A Rainha de Espadas nunca se entregaria à tais fraquezas, ela não cederia, e isso fazia o Rei de Copas se apaixonar ainda mais, correndo atrás dela com afinco.
Ela era forte demais pra se deixar bagunçar por um bigode bem feito. Ou pelo menos ela deveria ser. Tinha de ser.
Ele era charmoso demais para não conquistar qualquer donzela com um olhar. Com ela não seria diferente. Não poderia ser.