Estúpido Cupido

Estava absurdamente quente e meu 'dia engraçado' havia acabado de acabar. Meia noite e um, olhei no relógio. Você sabe como começou, fui te cumprimentar mas você estava ocupado demais para notar minha presença, nós éramos mais unidos antes dela, você lembra? E quando ela finalmente vai embora você fica triste, você murcha, nem longe dela você me dá atenção e quando dá sei que sou mero passatempo, sei que você está contando as horas para ela aparecer ali pra ver você. Me tirava do sério, mas acho que me acostumei. Agora ela está com outro então você está sempre blue, me dói te ver assim.
Passamos a tarde caminhando em bando - como sempre fazemos - todos rindo e você mais atrás, diminui o passo para te acompanhar, você cabisbaixo. Adiantava perguntar o que foi? Não, mas arrisquei. Você fez que não com a cabeça e me lançou um sorriso torto, triste. Certo, eu já sabia o que estava errado mesmo, você parece tão fraco, você me faz passar pela mesma coisa e eu sobrevivo.
Eles dois andavam bem na sua frente, acho que por isso você encarava o chão. Droga, por que você fazia tudo tão difícil? Por que pra você não era fácil sorrir estando comigo, só com ela? Eu sorrio fácil contigo, esse mundo é muito injusto. Desisti de você e resolvi voltar para casa.
Na parada de ônibus alguém chamou meu nome, me virei e lá estava ele, me olhou com aqueles olhos pequenos e brilhantes e veio direto ao meu encontro, me beijou demorado na bochecha e começou a falar e falar, empurrando as palavras pelo sorriso radiante. Acho que ele sorria fácil comigo, me sentia honrada com isso, mas não era exatamente quem eu queria que sorrisse comigo. Parando pra pensar, será que com todo mundo é a mesma coisa? Essa história de amores não-correspondidos? Era o meu ônibus. O beijei rápido e triste na bochecha e pulei para dentro, aliviada por estar finalmente sozinha. Passei todo o caminho com a testa colada no vidro refletindo sobre todos esses triângulos, prismas e hexágonos amorosos e cheguei a conclusão de que é algo que foi feito para não ser compreendido, deixei estar e fui ouvir música.
A melodia e o balanço do ônibus me embalando, adormeci. Acordei já perto de um shopping qualquer, longe da minha casa e resolvi descer ali. Comprei um sorvete e encontrei um grupo de conhecidos, passei meu fim de tarde com eles, deu para me distrair e conhecê-los um pouco melhor. Uma delas se ofereceu para me deixar em casa, era caminho, aceitei. Cheguei, chutei os tênis na porta do quarto e me joguei na cama - nossa, que dia longo! - criei coragem para tomar um banho e sem muitos esforços adormeci. Acordei meia noite e um com o gato quebrando um copo na cozinha, nada fora do comum, deixei os pensamentos voarem soltos pelo quarto por algum tempo e mais uma vez acabei apagando, apesar de tudo dormi sorrindo - pensando em você.