Na Rua Albuquerque, na esquina da casa 6, perto da calçada, aos pés da árvore, sentados na pedra, debaixo da chuva, nos beijamos. Como nosso primeiro beijo e importantíssimo por ser o beijo de reconhecimento de território, percebi algumas coisas. 1- Seu beijo era suave de um jeito fantástico 2- Beijar na chuva trás uma sensação boa 3- Eu e ele tremíamos, provavelmente de frio 4- Meu coração batia rápido de um jeito estranho, achei que ia explodir, mas eu não podia explodir sem olhar nos olhos dele e dizer algo tipo 'uau, você mexe comigo, mocinho', ou qualquer outra idiotice que eu conseguisse empurrar através do meu sorriso-bobo 5- Ok, acho que não notei tantas coisas, estava ocupada.
Encostei minha testa na dele e ficamos assim algum tempo, seus lábios pressionaram os meus mais um par de vezes e voltamos a nos olhar, tão perto, tão perto.
Prometemos nos encontrar ali no outro dia e o fizemos, várias vezes, e com o tempo e nossos encontros, meu coração infantil se preenchia. Não foi preciso mais que algum tempo para meu coração ficar cheio de todos aqueles sentimentos loucos e bruxuleantes, minha barriga ficar cheia de todas aquelas borboletas agitadas e descordenadas, meus olhos ficarem cheios de vontade dos olhos dele e os procurarem a cada momento na rua, no céu, na minha casa, minhas mãos ficarem cheias de vontades de traçar o contorno das mãos dele e todos esses tipos de sensações que caras potencialmente perfeitos nos proporcionam.
Mas isso tudo já faz muito tempo, nossas vidas tomaram rumos diferentes por razões ridículas há muito e hoje somos pessoas diferentes, peças de um quebra-cabeça que com o tempo (e a criança tentando encaixa-las com o controle-remoto da TV) se desgastaram, talvez não encaixem mais em peça alguma, mas isso só o tempo vai dizer, talvez a criança estivesse tentando forçar uma das peças de cabeça pra baixo, talvez elas fossem mesmo peças feitas para ficar juntas, talvez essas metáforas de peças e crianças com controles tenham me deixado meio louca, ou talvez a falta que eu sinto dele tenha feito isso. Talvez esteja na hora da minha novela, ou do remédio, ou de dar banho no gato.. Mas se você puder ler isso e puder dizer com certeza que não esqueceu da nossa pedra sob nossa árvore perto da calçada na esquina da 6 da nossa Rua Albuquerque, vou seguir a melodia que você emana, vou te encontrar e vou poder te dizer com certeza que te quero lá em casa, na bancada e com limão.
2 comentários:
NA BANCADA E COM LIMÃO?Uau,gata.
Porra,eu ia postar mas teu post sugou toda a minha inspiração.
Ficou muito de bom,de verdade.
Eu ia comentar 'na bancada com limããão', mas a Ila já destacou essa parte...
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