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Era amarelo o pingo de tinta que caiu na minha folha, até então, branca. A medida que ele se espalhava, você ia aparecendo na folha sobre a prancheta, sorrindo, se divertindo com aquele teu inseparável par de óculos. Um arrepio correu pelo meu corpo com a velocidade do filme que se passava diante dos meus olhos. Lógico que eu havia perdido completamente a razão, mas o Dionísio em mim só incentivava. Eu me lembro de tudo, você estava aqui com aquele seu jeito que me faz sorrir por dentro; eu, você e o amarelo no branco.
O violão proveniente das caixas de som provocava formigamento na ponta dos meus dedos, dedos estes que foram de encontro a todo aquele amarelo, espalhando-o. E num instante você estava em toda a folha, no chão, no quarto e - mais do que tudo - em mim.
Em mim; na disritmia do meu coração, no suspiro dos meus pulmões, no cobre dos meus olhos, e como se não bastasse, sob os meus pés, me roubando o chão.
Suas mãos deixaram saudade nas minhas
Seu sorriso deixou saudade no meu
Dedico este ao teu abraço quente, ao teu jeito engraçado de comer e ao teu jeito de andar, se apoiando em mim, de leve.