terça-feira, 31 de março de 2009
À esquerda havia um painel de avisos, à direita um conjunto de armários, várias pessoas sem rosto ao longo do corredor e no fim, bem no fim, estavam alguns pares de rostos conhecidos, o único traço de familiaridade naquele cenário. Ela começou a andar na direção dos rostos, mas uma dor sufocante a deteve, ela levou as mãos ao pescoço e se descobriu amarrada. Girou nos calcanhares e se deparou com um homem na outra ponta da corda amarrada a ela, ele sorria um sorriso sedutor, meio maroto. Ela tentou correr, mas o homem não soltou a corda e a corda não soltou seu pescoço, enquanto o ar deixava seus pulmões, os estranhos sem rosto aplaudiam. Ela buscou seus rostos conhecidos, eles a olhavam de longe, nem felizes nem tristes, só olhavam. O homem se aproximou dela e a encurralou contra a parede, os desconhecidos continuavam a aplaudir, desta vez emocionados, enquanto ele prensava seu sorriso maroto contra os lábios rijos dela. Ela desistiu de lutar, talvez fosse a falta de ar, mas tudo ficou meio nebuloso ao som das palmas dos estranhos, os rostos conhecidos já não estavam mais lá olhando, a corda já não apertava seu pescoço, o homem segurava suas mãos com um ar zombeteiro e foi com esse ar zombeteiro em mente que a garota acordou gritando.
terça-feira, 24 de março de 2009
Será?
domingo, 22 de março de 2009
Love story
- Ei, vem cá.
Você se debruçou sobre a mesa na minha direção.
- Mais perto.
Mais perto.
Te roubei um beijo e virei meu sorvete de casquinha no seu nariz.
- EI! - Você protestou e tentou agarrar meu braço numa tentativa frustrada.
Vi de relance os olhos do garçom se arregalarem enquanto eu corria, você veio atrás de mim, a mesa virou e o nosso milk-shake se espatifou em câmera lenta.
Continuamos correndo, eu rindo, você fingindo raiva. Pulei um banco, atravessei um gramado e quando não podia mais correr você me agarrou pela cintura e nós giramos pelo campo.
- Eu devia me vingar de você! - Você brigou, limpando seu rosto na minha bochecha. O gelado me arrepiou. Corri meus dedos pela sua nuca, peguei um pouco daquele sorvete todo, passei em você, em mim e ri dos nossos rostos sujos. E com aquele sorriso que eu adoro, você roubou aquele beijo de volta.
quarta-feira, 18 de março de 2009
segunda-feira, 16 de março de 2009
Veio com o sal da brisa
O sol brilhava forte, as ondas faziam aquele barulho gostoso de ouvir, a brisa salgada soprava os cabelos queimados de sol da garota. Era uma manhã perfeita para navegar.
Ash arrumou o revólver e a espada na bainha, pegou um vidrinho no bolso das largas calças escuras e deu um gole em seu conteúdo.
- Não acha que está meio cedo pra isso? – Um homem de voz cansada que esfregava o chão perguntou. Ele devia ter seus trinta anos, usava uma bandana listrada e parecia não se barbear há semanas.
- Aprendi com o melhor, Carl. – Ela sorriu para ele.
- Eu não devia ter começado a beber na frente dela. – Um segundo homem apareceu, pegou o vidrinho da garota e deu um demorado gole. Ele era maior que o primeiro, tinha uma cicatriz que ia da sobrancelha até o meio de sua bochecha, uma careca reluzente, olhos verdes-mar e um cavanhaque escuro. Seus braços eram cor-de-sol assim como todas as outras coisas no navio, está no pacote para ser pirata.
- Olá, capitão. – Ela cumprimentou.
- Quando vai me chamar de ‘pai’?
- Gosto de ‘capitão’, me faz me sentir meio pirata.
- Capitão, tem um navio se aproximando. – Carl avisou.
- Ei, Roux, largue o timão! O mar me chama! – O capitão gritou para o timoneiro e correu em sua direção, ele costumava ser meio impulsivo.
O timoneiro era um jovem ruivo, alto e magro chamado Roux, mas só o capitão e Ash o chamavam pelo nome, o resto da tripulação o chamava de Timoneiro.
- Tomara que o capitão não queira encrenca com o outro navio. – O homenzinho barbudo suspirou e voltou a esfregar o chão.
Roux deixou-se cair sobre um caixote e fitou o céu, Ash sentou ao seu lado.
- Hey, Roux. Não liga pra ele não, ok? É saudade dos tempos de timoneiro.
- Ah, certo. – Ele sempre ficava meio sem palavras perto dela.
Roux desceu do caixote e sentou no chão ao lado da garota, ela o olhou nos olhos com um ar curioso.
- O-o que? – Ele gaguejou.
- Gosto dos seus olhos. O jeito como eles brilham. – Ela disse chegando mais perto. Ele sentiu o rosto esquentar, as bochechas estavam quase da cor dos cabelos.
- Vem aqui. – Ele pediu.
Ash levantou e eles se debruçaram sobre a amurada. A menina passou os dedos no ‘Poison’ escrito em dourado na parte externa do clipper, o rapaz a admirava e seus reflexos sorriam. Sorriso divertido, sorriso apaixonado.
- Eu.. – Ele começou. Algo o atingiu com força nas costas. Era Lyon, o irmão mais velho de Ash.
- Tire as patas da minha irmã, Timoneiro! – Ele brincou.
Lyon era exatamente como a irmã: Sardento, moreno, alto, olhos verdes-mar e cabelos dourados-de-sol. Usava uma pequena argola na orelha e uma moeda de ouro pendurada no pescoço.
- Thomas! A quanto tempo, amigo! - Ele disse abrindo os braços musculosos e queimados de sol característicos dos piratas. Tudo fica meio queimado de sol depois de algum tempo dentro de um navio.
Acho que o sobrenome dele era Straw, do teu capitão.
No dia 29 de Junho de '08 eu te disse que mostrava até onde escrevi. Bom.. foi até aí. Teu Amèlie ainda não chegou, mas quem sabe um dia a gente não termina isso?
quarta-feira, 11 de março de 2009
Relatos confusos
Encostei minha testa na dele e ficamos assim algum tempo, seus lábios pressionaram os meus mais um par de vezes e voltamos a nos olhar, tão perto, tão perto.
Prometemos nos encontrar ali no outro dia e o fizemos, várias vezes, e com o tempo e nossos encontros, meu coração infantil se preenchia. Não foi preciso mais que algum tempo para meu coração ficar cheio de todos aqueles sentimentos loucos e bruxuleantes, minha barriga ficar cheia de todas aquelas borboletas agitadas e descordenadas, meus olhos ficarem cheios de vontade dos olhos dele e os procurarem a cada momento na rua, no céu, na minha casa, minhas mãos ficarem cheias de vontades de traçar o contorno das mãos dele e todos esses tipos de sensações que caras potencialmente perfeitos nos proporcionam.
Mas isso tudo já faz muito tempo, nossas vidas tomaram rumos diferentes por razões ridículas há muito e hoje somos pessoas diferentes, peças de um quebra-cabeça que com o tempo (e a criança tentando encaixa-las com o controle-remoto da TV) se desgastaram, talvez não encaixem mais em peça alguma, mas isso só o tempo vai dizer, talvez a criança estivesse tentando forçar uma das peças de cabeça pra baixo, talvez elas fossem mesmo peças feitas para ficar juntas, talvez essas metáforas de peças e crianças com controles tenham me deixado meio louca, ou talvez a falta que eu sinto dele tenha feito isso. Talvez esteja na hora da minha novela, ou do remédio, ou de dar banho no gato.. Mas se você puder ler isso e puder dizer com certeza que não esqueceu da nossa pedra sob nossa árvore perto da calçada na esquina da 6 da nossa Rua Albuquerque, vou seguir a melodia que você emana, vou te encontrar e vou poder te dizer com certeza que te quero lá em casa, na bancada e com limão.