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Minha nova casa não era longe dali, mas era nova, e assim, um refúgio. Quando me vi sozinha, cercada pelas pardas caixas de papelão triste, pelas quatro paredes brancas do cômodo, encarando o estrado da cama, resolvi que era hora de enfrentar a tal da fita. Sentei no chão com o aparelho, soprei a fita para não perder o hábito e a inseri. O que saiu das caixas de som, além de uns estalos, um risinho abafado e uns murmúrios foi uma melodia de violão conhecida. Com um quê nostálgico. Demorei um tanto para reconhecer a melodia que me embalou todas as noites em que eu dormi na casa de meu avô. Tão frágil, tão meu, tão inalcançável. Esse negócio de 'lugar melhor' não existe, nada era melhor do que você comigo. E mais uma vez, as lembranças me invadiram por uma pontada no ventre, subindo quentes até a garganta. Minha testa pressionada contra o chão frio e eu me dando conta de que talvez eu nunca aceite 'o ciclo natural das coisas'.