quinta-feira, 14 de outubro de 2010

Encontrado entre as páginas amarelas de um best-seller qualquer

É com um gosto amargo na boca que eu admito desconhecer a sua real identidade, porém para mim o formato dos seus lábios se tornou inconfundível, bem como o ranger dos seus sapatos e o seu jeito de estalar-dedos. Queria poder ter dividido meus sorrisos contigo, até porque com você eu sorriria sem motivo, como já fiz algumas vezes ao te observar de longe. Seu nome do meio não me importa mais do que o mundo de coisas que você pode dizer ou esconder com um olhar, sua conta bancária não me excitaria mais que os seus lábios sussurrantes ao meu ouvido, a organização do seu apartamento não me intrigaria mais do que os seus olhares perdidos no meu rosto e nada se compararia a dividir minha respiração com você. Quero que saiba que por vezes você foi meu, de longe, ao existir, ao bocejar de manhã cedo e pronto, eu era sua, você era eu - por entre as estantes da biblioteca abarrotadas de histórias pra contar. Elas presenciavam mais uma, a nossa história de amor proibido. Minhas limitações me impediram de me apresentar pra você, mas eu sei que você já me notou, ou ainda notará, e se apaixonará pelo meu amor puro e incontestável. Quando você entra, o vácuo é imediato e minha visão embaça, mas eu luto contra os sintomas para não perder sequer um segundo de você. Você, minha contra-indicação e ao mesmo tempo, meu remédio.

quarta-feira, 13 de outubro de 2010

Com o que é meu, eu faço o que quiser


Caminhava eu pela calçada agitada de um local que me trás lembranças, devaneando sobre de quem seria a culpa sobre o fim de assuntos antigos, quando esbarrei naquele garoto, magro, alto, preocupado com coisas fora de meu alcance. Ele e suas sobrancelhas arqueadas me gaguejaram um pedido tímido de perdão, e com um último olhar se perderam no fim da minha rua. Sua aflição me capturou de um jeito que eu não sei explicar, só sei que gastei muitos de meus disponíveis minutos em bolar situações e destinos para aquele garoto, e gostei da versão em que ele pisou na bola com um alguém especial, e está correndo até o canteiro para colher uma flor amarela e perseguir sua garota, olhando-a nos olhos e esclarecendo o assunto. Ela reluta, ele se aproxima, ela deixa escapar um meio sorriso, ele suspira de alivio com o coração leve, ambos se riem e tudo termina bem ao acabar bem. Meu garoto alto e tímido eu nunca mais vi, mas isso não o fez menos importante no meu dia, porque se ele tiver pensado em mim uma fração do quanto eu pensei nele, nós fizemos uma diferença na vida um do outro. E ao som de um violão recém-afinado, dedilhado suavemente numa praça antiga por um homem qualquer, nos esvaimos em poeira, nos misturando com as folhas da calçada, ao lado de um carro antigo. Nunca mais nos vimos.
Mesmo que só faça sentido pra mim.
E não que realmente faça.