quarta-feira, 12 de novembro de 2008

Ela pegou o molho de chaves no bolso da jaqueta e abriu a porta, ainda usava aquele chaveiro estúpido de coraçãozinho, largou a pasta no sofá vermelho, soltou o cabelo e se debruçou na bancada da cozinha enquanto acendia um cigarro. Ela odiava dias como aquele, longos. Seu chefe estava inspirado e resolveu fazer um discurso sobre porque a propaganda em que seu pessoal estava trabalhando deveria estar pronta até sexta-feira sem falta e isso a tirou do sério, sabia do prazo e não precisava que ninguém a ficasse lembrando. Soltou alguns círculos de fumaça em direção a janela e examinou as próprias unhas, terríveis, mas quem tem tempo de fazer as unhas hoje em dia?
Ela apagou o cigarro na pia, pegou uma maçã e voltou para a sala, a base do telefone piscava frenética. Duas novas mensagens. Ela apertou o botão no telefone, chutou os sapatos longe e se deixou cair no sofá.
"Só liguei para te lembrar do prazo. Sexta-feira, Bella.." A voz rouca encheu a sala. A mulher atirou a maçã no telefone, irritada. Silêncio. Uma nova mensagem começou.
"Oi, filha, tem tempo que a gente não se fala. Queria saber se você está precisando de alguma coisa.. eu e seu irmão sentimos sua falta.." A voz era triste e suave ".. saiba que quando quiser voltar pra casa.." a voz falhou "..quando quiser.. você sabe. As portas estarão abertas, eu e seu irmão estaremos aqui te esperando, tá?" A mulher no sofá abraçou os joelhos e chorou com a voz até a mensagem terminar. "Nenhuma.Nova.Mensagem" A secretária-eletrônica anunciou orgulhosa e o silêncio voltou a dominar o cômodo, quebrado de vez em quando pelos suspiros molhados da mulher no sofá.
O telefone tocou, ela rastejou até ele.
- Alô, Bella?
- Hmm.. - A mulher grunhiu de volta.
- Dia foda, heim? O chefe pegou pesado.
- Nem me fale, uma merda.
- Afim de sair?
- Só se não for terminar em ressaca, temos que trabalhar amanhã cedo - Ela pediu, mesmo achando que um pouco de álcool até cairia bem.
- Claro, claro. - Ele respondeu sem prestar muita atenção. - Então estou passando aí.
Ela tomou um banho rápido e saiu, pensando em como seria o dia de amanhã, pensando no tamanho dos objetos que seu chefe merecia enfiar no cu, pensando na noite que teria e pensando no que dizer à dona da voz quando retornasse a ligação.

Um comentário:

Ila Marinho disse...

Era eu até chegar a parte do pai e do irmão.Aí virou você.